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Carta para a Mari de 2012

Mari Rodrigues

01/10/2019 07h00

Mari, bom dia!

Escrevo esta carta pois neste momento você está muito fragilizada e precisando ler estas palavras. É 14 de novembro de 2012. Você já não aguenta mais toda essa pressão e decide mostrar-se ao mundo assim, do jeitinho que você é. E isso não é fácil. Isso nunca será fácil. Você tem medo, e isso é compreensível. O medo vai lhe guiar ainda por muito tempo.

A palavra que eu preciso lhe deixar para os próximos anos é garra. Você irá precisar dela. Garra para não desistir de tudo e querer se jogar do sétimo andar do prédio. Garra para compreender que nem sempre você estará andando perto das pessoas certas. Garra para conseguir ir ao trabalho todo dia, ainda que seja penoso em certos dias e você não consiga.

Paciência é uma outra palavra que você deverá levar consigo. Paciência para se tocar de que o mundo nem sempre gira a seu favor. Paciência para compreender que outros, que você pensa que não gostam de você (e alguns realmente não vão gostar de você), querem o seu bem. Paciência para saber que a sua hora de glória também vai chegar.

Mas, antes da glória, deve sempre vir o tormento. Você ainda vai passar muito perrengue, menina! Você vai sentir que amor não existe para você (isso ainda está em construção). Você vai ouvir coisas que ninguém em sã consciência diria a uma pessoa considerada "normal" (o que é "normal" mesmo?). Vai se sentir sem chão. Vai tentar desistir de tudo. Vai ver seu emocional em frangalhos. Mas te peço, não desista!

Você ainda não sabe que em breve vai conhecer algumas pessoas que serão seus exemplos de força e terá a consciência, mesmo sem acreditar, que você será o exemplo de força de outras, e isso é uma responsabilidade muito grande, que você achará que não conseguirá segurar. Mas irá!

Porque você vai ter consciência de uma força que por muito tempo você não soube que tinha, ou que não quis acreditar que tinha. Porque você passou por árduos caminhos e sobreviveu. Porque você passou por turbulências inimagináveis e está aí, sendo quem você é, um ser de luz…

Termino esta carta desejando que você viva intensamente tudo o que você ainda vai passar, e que você leve todos os seus aprendizados como baliza para um projeto maior. O de ser quem você é independentemente de convenções ou de achismos.

Seja feliz! Seja forte! Seja você!

É 23 de setembro de 2019. Uma nova Mari se inicia.

Um beijo!

Mari

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Sobre a autora

Estudante de Letras, Mari Rodrigues participa da Frente de Diversidade Sexual e de Gênero da USP. É apaixonada por comida do norte e por reciprocidade nas relações. Ainda está decidindo o que vai fazer com sua vida.

Sobre o blog

Falar de si e falar de um mundo melhor. Como as experiências pessoais de uma pessoa que já enfrentou tanto por ser quem é podem contribuir para que o mundo seja mais diverso e inclusivo?


Mari Rodrigues