Mari Rodrigues http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br Estudante de Letras, Marina Rodrigues participa da Frente de Diversidade Sexual e de Gênero da USP. Sat, 21 Mar 2020 07:00:31 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Isolamento e socialização em tempos de coronavírus http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/03/21/isolamento-e-socializacao-em-tempos-de-coronavirus/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/03/21/isolamento-e-socializacao-em-tempos-de-coronavirus/#respond Sat, 21 Mar 2020 07:00:31 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=104 Eu sou uma pessoa bastante sociável, que adora ver e conhecer pessoas e socializar no geral. Então, imaginem a minha angústia ao ter que ficar de molho em casa pelas próximas semanas com o advento da pandemia de Covid-19 e o já tão alardeado coronavírus. Sabemos que todo cuidado é pouco para frear o avanço de um mal que ainda não está plenamente explicado e cujas consequências ainda estão sendo contabilizadas. Quero falar sobre como lidamos com esse isolamento forçado da vida cotidiana.

O que falar dos idosos, acostumados a sair para lá e para cá, como ouvi falar esta semana, e que agora estão se sentindo sozinhos nesse confinamento forçado e muitos deles sem grande conhecimento das tecnologias? Ajudar aqueles que precisam neste momento, se possível, se faz importante. E as crianças, hiperativas e cheias de energia, que não podem brincar nem se sujar loucamente como fazem sempre? Outras formas de gastar esta energia devem ser pensadas, e isto pode aproximar pais e filhos.


A influenciadora Gabriela Pugliesi está isolada em casa desde que foi diagnosticada com coronavírus

Muitos estão em quarentena com seus familiares, e por motivos que já falei anteriormente, isso pode não ser o melhor caminho para quem tem problemas insolúveis de aceitação pela família — pelo contrário, essa aproximação pode gerar gatilho para outras violências e acarretar sequelas psicológicas intensas. Alguns amigos, enquanto escrevia este texto, me falaram que estão tendo que encontrar formas de lidar com a ansiedade que a ocasião traz.

E retomo a importância de nos mantermos em contato com as pessoas que realmente importam na nossa vida. Pode ser que o contato seja reduzido e não aquele que queremos ou que precisamos, mas se apoiar nessa rede de cuidado pode ajudar a lidar melhor com o isolamento. Se você tem amigos que precisam de apoio neste momento, apoie-os, mesmo que seja para dizer “estou aqui”. Se você precisa de ajuda, não hesite em pedi-la, alguém estará a postos, seja algum amigo, algum parente que realmente conta, seu psicólogo, ou mesmo o CVV (número 188) se a coisa apertar.

Espero que todos consigamos passar por este momento tão delicado com serenidade, e logo poderemos socializar de novo.

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O que devemos relembrar no Dia da Mulher? http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/03/07/o-que-devemos-relembrar-no-dia-da-mulher/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/03/07/o-que-devemos-relembrar-no-dia-da-mulher/#respond Sat, 07 Mar 2020 07:00:56 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=100 Eu serei sincera que hoje não sei exatamente sobre o que escrever aqui. Tanto tempo rodeada de mulheres maravilhosas e as palavras são poucas para expressar a gratidão que sinto por cada uma delas ter cruzado a minha vida. Mas vamos tentar entrar no assunto. 8 de março, como todos sabemos, é o Dia Internacional da Mulher. E qual a importância de relembrarmos este dia?

O 8 de março surge como uma revolta de operárias russas por melhores condições de trabalho, e que seria um dos estopins do movimento que levou aquele país ao comunismo. Relembrar o Dia da Mulher significa relembrarmos de nossas lutas diárias por respeito e por independência de nossos corpos. Num contexto global em que a mulher ainda é vista como “apenas” mãe e mão-de-obra gratuita, relembrar que temos vida, sentimentos e opiniões mostra que não vamos nos calar diante das opressões.

Falar da ainda existente disparidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho virou praticamente um lugar-comum. Muito já foi feito, mas parece que ainda temos que lembrar que essa é uma questão que precisa melhorar.

Também já mais do que passou da hora de discutirmos de forma madura e desapaixonada algumas das questões reprodutivas mais importantes para as mulheres, como o direito ao aborto seguro, válido e justo para evitar que mais mulheres pobres morram em clínicas clandestinas, e a flexibilização dos requisitos para se fazer laqueaduras, ainda tão restritas e vinculadas a protocolos machistas e desumanizadores da mulher.

Também devemos discutir ações efetivas para evitar e punir de forma eficaz o estupro. Ouso dizer que o estupro é o único crime injustificável e que escancara o machismo de nossa sociedade, tendo em vista as péssimas relações de poder entre homens e mulheres que se defendem no ato e na discussão e a péssima atuação do Estado no tratamento dos casos, vendo-se muitas vezes a absolvição dos acusados e uma nova violência contra a mulher, com sua culpabilização.

Mais uma vez, acabamos precisando mostrar que nossa força é inquebrável, e que mesmo fazendo tanta coisa ao mesmo tempo, e não sendo reconhecidas na maioria das vezes por tudo isso que fazemos, somos fortes e resistentes.

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Vamos falar sobre credibilidade e confiança? http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/29/vamos-falar-sobre-credibilidade-e-confianca/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/29/vamos-falar-sobre-credibilidade-e-confianca/#respond Sat, 29 Feb 2020 07:00:39 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=96 Conversando com um amigo, fiquei pensando sobre algumas coisas que parecem básicas mas não são tanto assim. Quando expressamos nossos sentimentos, nosso lado mais profundo, fica a impressão de que o outro lado precisa se interessar em ouvir o que temos a dizer. É a credibilidade que botamos na pessoa que vai nos ouvir que define o quanto vamos nos abrir na conversa.

O que é credibilidade? É a qualidade de ser confiável. E aí entramos no ponto alto da discussão que quero abrir: só falamos abertamente com quem temos confiança. Isso nos ajuda a filtrar melhor o que estamos falando e para quem, e nos freia de falar qualquer coisa a qualquer pessoa, indiscriminadamente.

Como se constrói uma confiança? Há pessoas que só de olhar já parecem confiáveis? O que determina a credibilidade dessa pessoa? São perguntas que só conseguimos responder dentro dos nossos corações. Cada pessoa tem seu referencial de confiança e cada pessoa sabe o que espera do outro.

Os usos que as pessoas fazem de seu nível de confiança geralmente são bons. Elas viram grandes amigas e confidentes: o outro sabe que algum segredo estará bem guardado. Mas há pessoas que manipulam essa confiança e a usam em proveito próprio, em detrimento da pessoa que confiou nela. Golpistas sabem muito bem como abusar da confiança dos outros e espero que paguem por isso.

E o que a diversidade tem a ver com todo esse seu papo, Mari? Explico: desenvolver confiança no meio é bastante difícil. Saímos de um ambiente de aparente fraternidade para um ambiente tóxico de medo e de desconfiança. E se não criamos a confiança nas pessoas que são nossas aliadas, é difícil criar uma rede de apoio consistente para nos fortalecer nesse ambiente.

Na semana passada, falei sobre amizade, e amizade também pressupõe confiança, pois é essa credibilidade que vai fazer com que as pessoas sejam nossas amigas ou não, e assim, todos ficam mais fortes para enfrentar a hostilidade dentro e fora do nosso lugar.

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As amizades que construímos no caminho http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/22/as-amizades-que-construimos-no-caminho/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/22/as-amizades-que-construimos-no-caminho/#respond Sat, 22 Feb 2020 07:00:46 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=92 Nesta semana, muita da minha correria foi para fazer ações do coletivo que ajudei a formar e a consolidar. E nada disso seria possível sem as pessoas que se dispuseram a ajudar a fazer as ações e a divulgar o nome do movimento. É em homenagem a essa galera do bem que eu escrevo hoje.

Em nosso caminho, podemos nos sentir extremamente sós nas nossas lutas, e parecerá difícil encontrar pessoas com interesses comuns. Mas isso é possível. Com um empurrãozinho aqui e acolá, consegue-se gente engajada e interessada em construir o movimento. A gente se abre a novas formas de fazer as coisas e de pensar o mundo.

Quando lidamos com a questão da diversidade, algumas divergências existem, claro, mas não são aquelas que inviabilizam o debate, como é comum acontecer em movimentos não tão homogêneos assim. Talvez por estarmos numa situação em que parece que entender o outro é entender a nós mesmos, haja mais acordos que desacordos.

Nem só disso vivemos, e é claro que várias dessas pessoas viram amigas com quem se pode contar sempre, e é esse o lado bom de tudo. Porque movimento também pode ser apoio e também pode ser acolhimento.

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As pequenas resistências que nos engrandecem http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/15/as-pequenas-resistencias-que-nos-engrandecem/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/15/as-pequenas-resistencias-que-nos-engrandecem/#respond Sat, 15 Feb 2020 07:00:42 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=88 Esta semana participei de um curso muito legal sobre resistência. E antes que venham me dizer que a universidade está ensinando balbúrdia, o curso era para falar de estudos que estão sendo feitos nesse campo de estudo relativamente novo. A professora, uma brasileira que já mora há muitos anos na Espanha, trouxe um monte de referências para saber o que a universidade tem estudado sobre as resistências abertas, já conhecidas de todo mundo, e as resistências cotidianas, que não são tão evidentes, mas existem.

Essas tais resistências cotidianas me interessaram muito mais, porque têm mais a ver com o que eu escrevo aqui. São estas “pequenas revoluções” que acontecem aqui e acolá que mudam um pouco o mundo em que vivemos. E especialmente quanto ao tema da diversidade, elas fazem um bocado de diferença. Seja aquela piada grosseira da qual a gente não ri, seja aquela correção pronominal que a gente faz, quase tudo na existência de uma pessoa LGBT+ é uma pequena resistência diária.

Há muitas divergências sobre o que pode ou não ser considerado resistência, mas o conceito mais aceito é o de oposição da pessoa subalterna ao poder, nesse sentido o subalterno sendo a pessoa sem voz no jogo do poder. O poder gera resistências, as resistências geram outras resistências, e as resistências geram poder. Como explicar isso de uma forma didática?

Suponhamos que num lugar X, um governante fala que bater no filho homossexual é uma solução para sua homossexualidade, e depois fala mais alguns absurdos, como, tomemos por exemplo, gente bonita deve ser estuprada. Essas falas geram revolta e as pessoas afetadas pelas falas absurdas pedem retratação. Isso é uma resistência. Por algum motivo, a indignação coletiva é tão grande que surgem movimentos auto-organizados e mesmo partidos políticos que por alguma razão ganham as próximas eleições. A resistência gerou poder.

E esse poder gera novas resistências, e ressentimentos por parte dos vencidos. Portanto, temos que deixar bem separados movimentos como o que é pela criminalização da LGBTfobia, que são resistências de grupos historicamente sem voz no poder, e o que é contra uma distópica “ideologia de gênero”, que é mera resposta do poder ao fortalecimento da resistência.

Outra lição que tirei deste curso foi que, pelo menos na academia, ainda existe essa dicotomia entre norte e sul, países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Esperamos que as universidades do norte teorizem sobre assuntos que são afetos ao sul, porém esquecemos que nós do sul podemos também ser responsáveis pela produção do conhecimento.

Num contexto em que a ciência tem sido extremamente atacada pela pós-verdade e mesmo pela mentira, temos de mostrar o nosso papel de criadores de nossas próprias histórias e autores de nossas próprias teorias, sem precisar do aval do outro para nos legitimarmos. E isso também é uma resistência. E uma revolução.

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Qual a importância que nos damos? http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/08/qual-a-importancia-que-nos-damos/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/02/08/qual-a-importancia-que-nos-damos/#respond Sat, 08 Feb 2020 07:04:41 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=81 Uma grande amiga, professora de espanhol para estrangeiros no Chile, tomou a liberdade de traduzir um dos meus textos para utilizá-lo em suas aulas. Alguns de seus alunos me fizeram algumas perguntas e foi interessante refletir sobre elas e responder a tudo de forma tranquila. O que me faz pensar na importância que damos à nossa importância dentro das nossas comunidades.

Cada um de nós é um fator de influência na parte da sociedade em que estamos incluídos. É claro que para certas pessoas, essa tal parte é mais alargada e elas falam para mais pessoas, voluntária ou involuntariamente. E quando fazemos parte de uma comunidade sempre visada, essa involuntariedade da fala é mais perceptível.

Estamos sempre sob constante escrutínio público, seja de nossos amigos ou de nossos detratores. Mostrar-nos é necessário, mas nem sempre o queremos. Afinal, temos vidas também, e a nossa intimidade e privacidade também existem. Não me apetece a ideia de ficar sempre atenta às minhas atitudes por receio de julgamentos alheios. Uma existência asséptica, sem defeitos, parece muito chata e desumanizante. Temos direito a ter nossos defeitos, desde que não machuquem os outros, e temos direito de ficar calados quando queremos.

Mas não é sobre o silêncio que deveria falar. Aliás, nem sei por que entrei nesse assunto. Talvez para chegar no ponto de que as nossas falas chegam ao outro e este outro processa a informação de uma forma que nunca conseguiremos adivinhar. Obviamente, falo de assuntos que atiçam a curiosidade das pessoas. Algumas delas se sentem à vontade de compartilhar suas experiências, outras só curtem e repassam, e outras se acham no direito de destilar seus mais vis sentimentos.

Quanto às primeiras, peço desculpas por não dar atenção, mas reflito sobre o que falam. Sobre as segundas, continuem assim, quanto mais pessoas lerem o que escrevemos, melhor. Sobre as últimas, apenas sinto pena e espero que esse ódio todo seja realocado em coisas boas.

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Pessoas trans resistem e transformam o próprio mundo http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/25/pessoas-trans-resistem-e-transformam-o-proprio-mundo/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/25/pessoas-trans-resistem-e-transformam-o-proprio-mundo/#respond Sat, 25 Jan 2020 07:00:06 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=77 29 de janeiro é o Dia Nacional de Visibilidade Trans. Nessa mesma data, em 2004, travestis e transexuais estiveram no Congresso Nacional para sensibilizar aqueles que dizem representar o povo sobre os problemas desta comunidade tão sofrida. Mas hoje não quero falar sobre sofrimento. Uma das bases de ECOA é falar sobre quem faz a diferença. Então, por que não falar de pessoas trans que fazem ou fizeram a diferença no mundo por seus feitos, suas palavras, enfim, por sua militância em prol da dignidade?

Por que não falar do finado João? João que para ser quem era praticamente nasceu de novo. Começou do zero mesmo e fez uma brilhante passagem pelo mundo mostrando a todos sua capacidade. Pessoas trans podem ser lutadoras.

Por que não falar de Jaqueline? Jaqueline que todos os dias espalha lucidez e mostra que a Academia precisa ser mais plural e mais tolerante, e que, com sua pesquisa, está mudando a opinião dos especialistas sobre o que é a transgeneridade. Pessoas trans também podem ser pesquisadoras.

Por que não falar de Paula? Paula que faz um lindo trabalho de conscientização daquelas pessoas que devem zelar pela proteção dos direitos da coletividade, tornando-as aptas a oferecer atendimentos mais humanizados. Pessoas trans podem ser empreendedoras públicas.

Por que não falar de Luna? Luna que não tem medo de falar de suas cicatrizes e seus prazeres, e que faz isso de uma forma muito competente, cheia de personalidade. Pessoas trans podem ser escritoras.

E por que não falar de Mari, esta que aqui escreve? Mari que com todo o acesso que conseguiu na sua vida, pode falar sem medo numa coluna de um site importante e mudar, nem que seja um pouco, a compreensão das pessoas sobre o mundo em que vivemos. Pessoas trans podem ser influenciadoras.

Há tantas outras pessoas trans que, anonimamente, também mudam o seu entorno, tornando-o mais compreensivo e mais fraterno. Nossa simples existência é um recado: podemos ser tudo o que quisermos, vamos fazer a diferença no mundo e temos de resistir a tudo que nos quer fazer mal!

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Sobre o quanto permitimos em nossas relações de amizade http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/18/sobre-o-quanto-permitimos-em-nossas-relacoes-de-amizade/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/18/sobre-o-quanto-permitimos-em-nossas-relacoes-de-amizade/#respond Sat, 18 Jan 2020 07:00:42 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=74 Esta semana ouvi do meu terapeuta que deveria prestar mais atenção às atitudes que certas amizades têm comigo, e o quanto eu permito que estas atitudes sejam tomadas e se reproduzam. Atitudes agressivas costumam ser relevadas em nome da amizade, mas… por que não trabalhar em cima dessas agressividades para construir uma amizade mais saudável?

Estamos tão acostumados a “engolir sapo” em nossas vidas, seja no trabalho, nos estudos ou nas relações interpessoais, que consideramos isso como algo inerente à vida em sociedade. Mas será realmente que é preciso sempre relevar tudo? Qual o limite da paciência? O que podemos fazer quando alguém simplesmente te destrata? São perguntas de difícil resposta e eu não conseguirei respondê-las aqui. Mas podemos dar uma guia para tentar encontrar esse caminho.

Antes de mais nada, é preciso manter a calma e não tornar a situação ainda pior. Você não sabe o que o outro está pensando naquele momento e a situação não é a mais propícia para avaliar o que está realmente acontecendo. Depois que a poeira baixa, aí sim você pode ter uma visão mais profunda da situação e saber onde cada parte errou naquela relação para que se chegasse ao ponto de uma discussão.

As palavras do terapeuta ainda ecoam na minha cabeça e talvez por isso, eu tenha parado para avaliar certas coisas. Será mesmo que a gente precisa ter tanta permissividade com nossos amigos e botar um limite muito flexível para o que a gente pode suportar? Será que o nosso limite é o limite do outro, ou seria mais razoável definir em conjunto esse limite?

Cada um tem sua história, seus medos e traumas. Fico pensando o quanto de nossos problemas acabamos projetando no outro, seja por puro desconhecimento do que fazer, seja pela falta de autoavaliação das nossas mazelas. É um trabalho diário o do autoconhecimento, que serve para termos relações mais saudáveis e sem explosões.

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O tal do amor nos pertence? http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/11/o-tal-do-amor-nos-pertence/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/11/o-tal-do-amor-nos-pertence/#respond Sat, 11 Jan 2020 07:00:43 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=69 Sinto que estou num momento da minha vida em que o tal do amor finalmente está fazendo sentido. Sabe aquela sensação boa de que algo saudável te rodeia? Pode ser só um começo, mas parece que já dura um bom tempo. Pode ser que eu precise manter a calma, e estou disposta a isso.

É o que eu queria falar hoje. Há um tempo, dei uma entrevista em que dizia não acreditar neste amor romântico dos filmes melosos. O amor sempre me pareceu mais próximo daqueles romances dos filmes franceses em que há, sim, uma relação de entrega, mas com pé no chão. Quando se vive a afetividade de forma desvirtuada, como se as pessoas apenas usassem as outras e as jogassem fora, como um brinquedo, fica difícil acreditar em relações sólidas em que o tal do amor prevalece. E ainda mais numa sociedade como a nossa.

E me lembro de quem não pode manifestar seu amor, por medo de represálias na comunidade em que vive. Há países em que a homossexualidade ainda é um crime punível com a morte e há o Brasil, onde um beijo trivial é condenado como safadeza, como escrevi em textos anteriores. Não duvido que essas pessoas também gostariam de apedrejar homossexuais nas ruas, para compensar a amargura de suas vidas tristes e presas a convenções. Triste!

Em outra entrevista, falei sobre o papel que o amor pode (ou não) ter sobre as pessoas trans, tão marginalizadas até mesmo em algo tão puro como um relacionamento. O mero fetiche pode ser superado? A curiosidade pode dar lugar a um sentimento verdadeiro? São questões que não sei se podem ser respondidas em mais ou menos dois mil toques. Mas vamos desenvolver.

Nós, pessoas LGBT+, aprendemos desde cedo que nosso amor é errado e impuro. Que vamos para o “inferno”. Alguns chegam a aprender que é melhor manter a castidade para não arder. Ou seja, se anular para evitar a fúria de um Deus que no fundo não é amor. E assim vivemos nossas relações neste mundo de “amores líquidos”: sem envolvimentos, sem sentimentos, sem sal…

Sinto que a própria comunidade deveria fazer uma autocrítica. Será que o tal do amor para nós é tão errado que devemos não amar e ser indelicados, como se pode ver em qualquer aparato de busca de relacionamentos? Será que também não vamos nos abrir ao sentimento e apenas satisfazer necessidades fisiológicas? Será que queremos isso? Ou no fundo quem está agindo de forma ridícula ainda tem dificuldade de desaprender esta moral que nos condena, e pior, a reproduz?

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Podemos ser versões melhores de nós mesmos http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/04/podemos-ser-versoes-melhores-de-nos-mesmos/ http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/2020/01/04/podemos-ser-versoes-melhores-de-nos-mesmos/#respond Sat, 04 Jan 2020 07:00:13 +0000 http://marirodrigues.blogosfera.uol.com.br/?p=66 Neste réveillon uma coisa muito interessante aconteceu: encontrei uma pessoa conhecida na cidade, que tem pensamentos diametralmente opostos aos meus e mesmo contraditórios com a sua condição. Como era um ambiente pequeno, não deixei de cumprimentá-lo dando “feliz ano novo” e toda essa pompa e circunstância que o momento pede. Lembrei-o de quem eu era e até tiramos uma foto juntos para que ele mostrasse a um amigo em comum.

E isso me fez pensar que nesses períodos de confraternização, não somos tão virulentos em nossos pensamentos e até baixamos nossa guarda em favor de momentos de paz. E é sobre isso que eu quero falar hoje: podemos sim ser versões melhores de nós mesmos. E não apenas em momentos de reflexão e confraternização.

É difícil para muitos, eu sei. Mas podemos nos abrir ao diálogo, desde que ele não venha carregado de ódio e de preconceito. Podemos argumentar, se possível. Podemos discordar, e isso é bom para uma democracia saudável que tanto almejamos.

Outra coisa que podemos fazer para sermos cada vez melhores é repensar nossas atitudes. Todos temos alguma atitude que não nos faz bem, ou não faz bem a outras pessoas, ou ao ambiente. Ter esta autocrítica é importante para que possamos, antes de colaborar com o outro, estar em paz conosco.

Desconstruir preconceitos também é fundamental. Todos temos algum. E não adianta dizer o contrário. Conhecer melhor o outro e o que ele passa é fundamental para depois termos uma opinião qualificada a respeito. Estar aberto a novos conhecimentos nos faz ser pessoas melhores e mais engrandecidas.

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