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Um amigo recomendou que eu falasse sobre educação. E me pergunto sobre o que exatamente eu posso falar nesse assunto. Oportunamente, na semana passada tivemos a segunda prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Lembro-me da polêmica desnecessária que uma questão do exame causou no ano passado. Era um texto que falava sobre o pajubá, uma forma específica de comunicação entre pessoas LGBT. De reações acaloradas a tentativas de desideologizar o exame, muita gente só viu a polêmica e não leu sobre o que se tratava a questão, que era uma indagação asséptica sobre o caráter sociolinguístico do tal dialeto.
Há pessoas que se incomodam só de ouvir a palavra gênero. Uma história muito engraçada e, ao mesmo tempo, assustadora contada a mim fala de uma discussão desnecessária numa sessão parlamentar, pois citava gênero alimentício; e a famigerada palavra não podia sequer ser pronunciada na frente de um cidadão. Engraçada, pois as pessoas não se dignam mais a entender contextos. Assustadora, pois as pessoas não se dignam mais a entender contextos.
Lembro-me também de uma aula interessante que tive recentemente sobre a questão do letramento e sobre essa linha tênue que divide uma pessoa letrada, aqui entendida como aquela que lê e escreve além do próprio nome e entende o que está lendo e escrevendo, de uma pessoa analfabeta, que, pela definição do censo brasileiro, é aquela que não sabe escrever um bilhete simples.
Em outra aula, houve críticas à forma como boa parte dos estudantes de Letras, cuja esmagadora maioria terá como saída a docência, escreve mal e tem uma noção muito fraca de gramática, e que isso depõe contra os próprios estudantes, tão atacados nestes últimos tempos.
Estas informações juntas e outras observações mostram que o brasileiro médio vai muito mal quando a questão é ler e interpretar textos e construir raciocínios críticos.
Basta ver qualquer caixa de comentários: muito lugar-comum e pouca coisa que realmente possa se aproveitar.
As críticas já não são mais construtivas e sim reforçadores de convicções violentas, facilitadas por este círculo vicioso formado pelas condições precárias da educação e pela instrumentalização da idiotice por pessoas mal-intencionadas. Não sou a pessoa mais gabaritada para falar sobre educação, mas enquanto as condições acima forem facilitadas, polêmicas desnecessárias continuarão acontecendo.
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